Resenha: Invisível de Andrea Cremer e David Levithan

Título: Invisível
Autores: Andrea Cremer e David Levithan 
Editora: Galera Record
Gênero: Ficção Estrangeira
Páginas: 322
Ano: 2014
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Sinopse: Stephen passou a vida do lado de fora, olhando para dentro. Amaldiçoado desde o nascimento, ele é invisível. Não apenas para si mesmo, mas para todos. Não sabe como é seu próprio rosto. Ele vaga por Nova York, em um esforço contínuo para não desaparecer completamente. Mas um milagre acontece, e ele se chama Elizabeth. Recém-chegada à cidade, a garota procura exatamente o que Stephen mais odeia. A possibilidade de passar despercebida, depois de sofrer com a rejeição dos amigos à orientação sexual do irmão. Perdida em pensamentos, Elizabeth não entende por que seu vizinho de apartamento não mexe um dedo quando ela derruba uma sacola de compras no chão. E Stephen não acredita no que está acontecendo... Ela o vê!

Pare um instante, feche os olhos, respire fundo e imagine. Imagine passar pela vida despercebido. Literalmente. Ao andar na rua, as pessoas não poderiam desviar de você, porque elas não lhe enxergariam. Da mesma forma elas não poderiam dar bom dia ou oferecer ajuda se você estivesse precisando. Escola, faculdade, um emprego, coisas aparentemente cotidianas, para você não passariam de sonhos distantes. Você não seria apenas esquecido, não, você simplesmente jamais teria existido. Ninguém se lembraria do seu sorriso, da sua forma única de ajeitar o cabelo ou da cor intensa dos seus olhos. Invisível. Essa palavra pesa e ecoa. Traz pensamentos sobre quando seu melhor amigo lhe ignorou ou aquela pessoa especial fingiu que você não estava ali, torcendo para que ela viesse dizer um oi. E dói. Ser invisível. Não significar nada. Sem possibilidade de mudança. Nunca.

Essa é a realidade de Stephen. Quando se encara no espelho, é como se ele não estivesse ali, só o que se reflete é o ambiente onde ele está. Ninguém pode lhe ver. Seu pai, sentindo que o peso daquela maldição era muito para seus ombros, simplesmente parte para viver com outra família. Após perder também a mãe, Stephen passa a vagar por Nova York, tentando ocupar seu tempo e conseguir para si o mínimo de normalidade que lhe é permitido. Em um dia vazio como qualquer outro, Stephen está retornando a sua casa, quando uma menina desconhecida, sua nova vizinha, tropeça nele e derruba suas sacolas. E o mais impressionante: Ela fala com ele. Naquele instante, ele acredita que finalmente a maldição que o aprisiona desde que nasceu esgotou-se, mas minutos depois, percebe que não, Elizabeth é a única a poder vê-lo. Por que será que ela e somente ela pode lhe ver? Stephen, Elizabeth e o doce Laurie, irmão da moça, veem, juntos, um novo mundo descortinar-se a sua frente. E terão que fazer escolhas e tomar decisões cruciais e difíceis para que tudo fique bem no final.
"Meus dias são muito parecidos uns com os outros. Acordo quando quero. E tomo banho, mesmo que seja difícil me sujar. Faço isso sobretudo para que possa me concentrar no fato de ter um corpo e, então, ter a sensação da água tocando minha pele."
Além da premissa, algo bem interessante nesse livro é o fato de ter sido escrito por dois autores, e o melhor, esses dois autores formam uma parceria brilhante. Os capítulos são apresentados um na visão de Stephen e o seguinte na de Elizabeth, assim sucessivamente, sempre em primeira pessoa. A escrita é extremamente envolvente, rebuscada e leve em proporções iguais, gerando assim um encaixe perfeito e principalmente, muito agradável. Simplesmente não dá vontade de parar de ler. A curiosidade e o envolvimento são grandes demais. 
"As pessoas dizem que o tempo escorre pelos dedos como areia. O que não reconhecem é que um pouco da areia gruda na pele. Essas são as lembranças que ficarão, memórias da época em que ainda havia tempo." 
Stephen é um personagem fantástico e complexo. E aqui parabenizo os autores, que souberam trabalhar o lado emocional da situação na medida certa para o leitor sentir e não achar dramático em demasia. Mas um personagem impressionante, divertido e realmente especial, que deu um tom descontraído e ao mesmo tempo doce a história foi Laurie, o irmão homossexual de Elizabeth. A forma que ele foi retratado foi perfeita. Levitan sempre procura mostrar em seus livros como é natural ter preferências diferentes das aceitas pela maioria da sociedade, e nesse não foi diferente. E posso dizer que ele mais uma vez teve sucesso. Laurie me cativou, com seu jeito franco, brincalhão e ao mesmo tempo protetor, terno, aberto e acolhedor. Elizabeth é forte, decidida e intensa.
"Depois de algum tempo, parei de me perguntar sobre os “por quês”. Parei de questionar os “comos”. Parei de notar os “o quês”. Permaneceu simplesmente minha vida, e eu simplesmente a conduzo. Sou como um fantasma que nunca morreu."
Essa é uma história surpreendente, que toma rumos difíceis de prever e tem a dose certa de romance. O final me deixou levemente insatisfeita, mas nada muito significativo. Bem fácil de superar. Creio que a complexidade do resto da trama mantém seu mérito.

Minha curiosidade por esse livro começou por já ter lido, e me encantado, por Todo dia, outro título de Levithan, dessa vez sozinho. Não me decepcionei. Ambos os livros são radicalmente diferentes, mas de certa forma parecidos, e me causaram o mesmo impacto e o mesmo tanto de reflexões.
"Tenho de aprender a ter consciência dela e consciência de mim ao mesmo tempo. Sou tão novato nessa coisa toda e desconfio profundamente de que isso seja o que as outras pessoas chamam de amor."
Me peguei pensando em tantas coisas ao decorrer dessa leitura. Refleti sobre as pessoas, suas atitudes, suas dificuldades. Discorri mentalmente sobre desafios, família, força, mas principalmente sobre amor. 

Invisível é uma história tocante, intensa e genial. Um enredo simples, transformado em páginas repletas de emoções, aventura, sentimentos e escolhas. Indicado a quem se deixará levar pela magia tão bem tecida por esses dois autores de talento ímpar.

*Sobre a capa: Ela é um pouco complicada de descrever. Tem seu fundo verde, título em amarelo, autores em branco e na metade de baixo vários traços amarelos, com exceção de um verde escuro ali entre eles. Pra mim, a capa representa que ele (seja um traço qualquer ou a representação do personagem) era o único diferente ali, no meio de tantos iguais, o único invisível. Não sei se foi realmente isso, mas foi assim que pude ver. (Andresa)



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