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Resenha: A Distância Entre Nós de Thrity Umrigar

Título: A Distância Entre Nós
Autora: Thrity Umrigar
Editora: Nova Fronteira
Gênero: Drama
Ano: 2006
Páginas: 330
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Sinopse: BOMBAIM, ÍNDIA. Duas mulheres. Duas vidas. Dois destinos que poderiam ser um só. Sera e Bhima estão indiscutivelmente ligadas, seja pelo silêncio ou pela cumplicidade. Mas ao mesmo tempo estão distantes, separadas por uma fronteira intransponível. Como se o fio que as une não fosse forte o suficiente para agüentar uma descarga elétrica, força que parece definir a sorte e a tragédia da patroa e da empregada. Duas vidas marcadas pela decepção, enganadas pela traição, sujeitas a uma sociedade cruel cuja voz berra e marca a fogo a existência dessas mulheres. A Distância Entre Nós é um romance avassalador, envolvente, intenso. Você não conseguirá parar de lê-lo, e não será o mesmo quando alcançar a última página. Acredite.

Quando nem a amizade é capaz de quebrar paradigmas, nem anos de convivência são capazes de pôr abaixo os muros construídos por preconceitos antigos e arraigados. Quando nem milhares de gestos compram a igualdade. Duas realidades. Dois polos. Dois extremos. A Índia, esse país às vezes arcaico, às vezes conservador demais, será o cenário em que a pobreza e a riqueza se entrelaçarão. Uma relação contraditória, singular e apesar de limitada, rara.

Sera Dubash é rica, influente, elegante. Bhima é pobre, analfabeta, e quase insignificante. A primeira, patroa, a segunda, empregada. As duas mantêm uma relação estranha, que quase pode ser chamada de amizade. Que talvez em outro mundo, fosse chamada de amizade. Em meio a uma teia de segredos e antigas mágoas que se mesclam a novas, Thrity constrói uma história forte. Dura. Capaz de fazer-nos engolir em seco algumas vezes. Duas vidas destruídas e marcadas pela decepção. Duas mulheres distantes, diferentes, mas em certos pontos, iguais, vivendo em um país intolerante e tradicionalista, de forma negativa.

Primeiramente, a premissa deste livro já é fantástica. Uma história passada na Índia. A narração foi alternada entre Bhima e Shera, estratégia que deu muito certo. A escrita é simples, tocante, mas às vezes crua, sem meias palavras ou eufemismos.

“Suas mãos estavam vazias agora, vazias como seu coração, que era como um coco cuja polpa tivesse sido arrancada.”

As personagens são envolventes, mas a trama não tem um pico, algo pelo qual o leitor espera. Vejo isso como um ponto negativo, de certa forma, mas que se pensado de outra maneira se torna imprescindível. O tempo, hora é presente, hora é passado, revelando muito sobre a vida das personagens, o que explica muita coisa e enriquece a história. O final acabou me decepcionando, achei para dizer o mínimo injusto e abrupto. Mas talvez essa seja a intenção da autora: Mostrar como é a vida real.

“- Até mesmo as lágrimas são um luxo - diz ela, mas não tem certeza se diz isso em voz alta ou só para si mesma. - Invejo as suas lágrimas.”

Um ponto fantástico foi a visão que nos é oferecida da Índia. Um país moderno e ao mesmo tempo retrógrado. Além de todas as referências a comidas, lugares, costumes, roupas e palavras introduzidas habilmente, e que nos fazem querer conhecer mais e mais. Com certeza procurarei mais livros dela. Creio que esta jornalista, de pouco mais de vinte anos, tem muito ainda a nos dizer. Sua crítica ao tratamento concedido aos empregados e a divisão por castas é clara, e nos atinge intensamente durante a leitura. Torna-se também a nossa crítica, a nossa vontade de gritar tudo isso para o mundo.

“ - Você e papai estão sempre falando desses hindus de casta superior que queimam os harijans, os intocáveis, e de como isso é errado. Mas na sua própria casa você impõe essas diferenças de casta. Que hipocrisia, mamãe!”

Esse não é um livro fácil. É revoltante, triste, forte. Irá lhe fazer questionar e se indignar. Irá lhe fazer pensar na intolerância, na injustiça, na dor. É difícil sair dessa leitura sem ao menos algumas reflexões e sem ser tocado por ela. Este não é um livro para qualquer um.

“Como de hábito, Sera se senta à mesa enquanto Bhima fica de cócoras no chão, a seu lado. Quando Dinaz era mais jovem, implicava com a mãe por algo que considerava uma injustiça: Bhima não poder sentar-se no sofá ou numa cadeira e ter que usar utensílios separados, em vez daqueles que a família normalmente usava.”



Resenha: Segredos e Mentiras de Diane Chamberlain

Título: Segredos e Mentiras
Autor: Diane Chamberlain
Editora: Arqueiro
Gênero: Ficção, Drama
Páginas: 288
Ano: 2014
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Sinopse: Cara Anna, Já comecei esta carta várias vezes e aqui estou, começando-a novamente, sem fazer a mínima ideia de como lhe dizer. A carta não terminada é a única pista que Tara e Emy têm para entender o que levou sua amiga Noelle ao suicídio. As três eram inseparáveis desde a faculdade e tudo a respeito de Noelle – seu trabalho de parteira, a forma como se dedicava apaixonadamente a diversas causas sociais, seu amor pelos amigos e a família – se encaixava na descrição de uma mulher que amava a própria vida.Só que havia muitas coisas que Tara e Emy desconheciam. Por exemplo, quem é Anna e por que Noelle nunca a mencionara.Com a descoberta da carta e do terrível segredo que a motivou, as duas começam a desvendar a verdade sobre essa mulher forte, independente e gentil que entrou em suas vidas trazendo amor e compaixão, mas que também pode ser a responsável por muitas tristezas e ilusões.Com delicadeza e equilíbrio, Diane Chamberlain constrói uma história sensível sobre amizade e relacionamentos e levanta a pergunta: até que ponto você seria capaz de perdoar alguém que ama?

As pessoas com as quais convivemos todos os dias são incrivelmente complexas. Cada uma a sua maneira, com minúcias e particularidades que provavelmente nunca saberemos. A verdade é que nossos relacionamentos, mesmo aqueles que para nós são essenciais, podem muito bem estar cercados por espelhos. Espelhos que escondem, disfarçam e ocultam. Que nos impedem de conhecer totalmente a quem jurávamos ter tanta intimidade e confiança. E o principal, espelhos que refletem. Refletem a nós mesmos e nos mostram só aquilo que queremos ver. E se um dia, por acaso, esses espelhos se partirem, os cacos nos deixarão marcados para sempre.
Tara, Emersson e Noelle eram inseparáveis desde a faculdade. O laço que forjaram também incluía Sam, que posteriormente se casaria com Tara. As três viviam felizes, Emy e Tara com suas famílias e Noelle trabalhando de parteira e cuidando de seu jardim. Mas de uma hora para a outra suas vidas começam a desmoronar, repentinamente, como um castelo de cartas atingido por um vento forte. Noelle, a parteira apaixonada, entusiasta de causas sociais e uma rocha para todos, comete suicídio. Tara e Emy se desesperam, em meio a culpa, tentando entender o que levara alguém que elas pensavam conhecer tão bem a esse extremo. Após descobrirem alguns fatos estranhos e encontrarem uma carta inacabada para alguém desconhecida chamada Anna, as duas mulheres embarcam em uma jornada a fim de descobrir quem realmente fora Noelle. O que elas não sabem é quão duras serão algumas dessas descobertas e o quanto elas afetarão suas vidas, ou o que elas pensam serem suas vidas.
"Juntas, nós duas sabíamos tudo o que se poderia saber sobre Noelle. Ainda assim, na minha frente jazia a prova ­- nossa amiga, que se fora para sempre ­- de que, na verdade, não sabíamos de nada."
Algo bem interessante sobre esse livro é a forma de narração alternada entre vários personagens. Isso facilita a ambientação e traz mais proximidade com o enredo. Além de os fatos serem narrados em paralelo, passado e presente. A escrita flui agradavelmente, simples mas ao mesmo tempo bem trabalhada, envolvente, costurada com emoções e sensações.

A leitura não é leve, mas não chega a ser forte. Fica bem equilibrada entre esses dois extremos, trazendo uma densidade confortável, que envolve e prende. As personagens são complexas, com defeitos, medos e particularidades. A autora soube muito bem construir cada uma delas, desenhando com perfeição um quadro que aproxima e gera afinidade. 

A história é surpreendente, despretensiosa e encantadora. Mostra uma teia de mentiras, e pessoas lidando com o medo do desconhecido, o medo de quem já fora quase da família. Mostra alguém fraco, que não foi capaz de aguentar o peso das revelações que tinha para fazer, mas também acabou não suportando manter isso para si por muito tempo.

É incrível a forma que a autora consegue entrelaçar duas histórias diferentes, unindo-as em um clímax incrível. Minha única ressalva que não chega a ser negativa, é quanto ao final. Achei muito abrupto, sem muito detalhamento. Ficou um "gostinho de quero mais".

Esse livro fala do quanto nós podemos suportar por amor. Fala de manter segredos e de quanto eles podem acabar nos custando. Fala de erros, consequências, culpa e dor. Mas também fala de uma amizade impenetrável e questiona duramente nossa capacidade de perdoar.

Uma leitura repleta de surpresas, reviravoltas e segredos. A cada página virada vem uma nova descoberta e várias possibilidades. Reflexões e muitos pensamentos são marcas deixadas por esse livro, que a princípio parecia ter bem menos a oferecer.

Descrição da capa*: Ela mostra uma mulher quase segurando sapatinhos de bebês, não mostra seu rosto, apenas seus braços, e os sapatinhos parecem estar em cima de uma carta. E possui a frase "Uma mentira salvará uma família. A verdade destruirá outra. Qual você escolheria?"

* À pedido da Aninha, tentarei fazer ao final das resenhas, uma breve descrição das capas, para aqueles que visitam o blog e possuem alguma dificuldade visual e querem ter uma ideia de como são as capas dos livros resenhados. Não sou muito boa em descrições, mas vou tentar! (Andresa)



Resenha: Extraordinário de R. J. Palácio

Título: Extraordinário
Autora: R. J. Palácio
Editora: Intrínseca
Ano: 2013
Gênero: Drama
Páginas: 320
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Sinopse: August Pullman, o Auggie, nasceu com uma síndrome genética cuja sequela é uma severa deformidade facial, que lhe impôs diversas cirurgias e complicações médicas. Por isso ele nunca frequentou uma escola de verdade... até agora. Todo mundo sabe que é difícil ser um aluno novo, mais ainda quando se tem um rosto tão diferente. Prestes a começar o quinto ano em um colégio particular de Nova York, Auggie tem uma missão nada fácil pela frente: convencer os colegas de que, apesar da aparência incomum, ele é um menino igual a todos os outros.
Narrado da perspectiva de Auggie e também de seus familiares e amigos, com momentos comoventes e outros descontraídos, Extraordinário consegue captar o impacto que um menino pode causar na vida e no comportamento de todos, família, amigos e comunidade - um impacto forte, comovente e, sem dúvida nenhuma, extraordinariamente positivo, que vai tocar todo tipo de leitor.

Oie gente! Estou ansiosa, nervosa, emocionada, excitada, feliz, e tantos outros adjetivos que descreveriam minha emoção, mas que não caberiam aqui. E tudo isso, pois hoje, vim falar de um livro que pra mim, foi a melhor coisa que li ano passado, e sim, também uma das melhores leituras da minha vida! E X T R A O R D I N Á R I O de R. J. Palácio. Em primeiro lugar, gostaria de agradecer imensamente, a autora, Palácio muito, muito, muito obrigada.

Ao contrário do que aconteceu com muitos amigos e conhecidos meus, que leram muitas resenhas, propagandas, e acompanharam todo o burburinho do livro na blogosfera, no meu caso, fui contra a maré... Estava eu, navegando nas "torturões" (pra quem não conhece o termo, existe no meu dicionário, é uma mistura de tortura+promoções) dos submarinos da vida, e dou de cara com essa capa interessante, daí, li a sinopse, e nem pensei, coloquei no carrinho. Mas o que aconteceu? Não veio! Sério! O sub entrou em contato depois, me dando crédito para a próxima compra e tal... E minha leitura foi adiada... até o meu aniversário, onde minha irmã linda que eu amo muito, me presenteou! Assim que ganhei, fiquei mais ainda curiosa, nunca tinha ouvido falar da autora, de qualquer outro livro dela ou que a mencionasse, e como os outros livros que eu tinha ganhado eu já tinha lido em e-book, resolvi ler primeiro o Extraordinário. E não foi nada, mas nada mesmo, do que eu imaginei que seria. Foi muito, mas muito melhor!


A história...

O August me prendeu nas primeiras páginas, de cara fiquei encantada com o "jeitinho Auggie de ser". Que menino incrível! Inteligente, sarcástico (na medida certa), educado, maduro para a sua idade (ele tem 10 anos, mas faz aniversário durante o livro...), sensível... E como as minhas emoções no início, também me faltaria espaço para falar do Auggie...

O livro é basicamente narrado sobre a perspectiva do Auggie, mas temos o privilégio de também ouvir a narração sob os pontos de vista da sua irmã Via, seus amigos da escola Summer e Jack, de Justin (namorado da Via) e Miranda (amiga de infância da Via e também do Auggie). E isso é o máximo, pois nos mostra realmente, que toda história tem várias faces... Literalmente!

Como diz na sinopse, o Auggie, nasceu com uma síndrome genética cuja sequela é uma severa deformidade facial, não sabemos em detalhes como é o rosto dele, mas no decorrer da leitura, temos uma ideia...
Sei que não sou um garoto de dez anos comum. Quer dizer, é claro que faço coisas comuns. Tomo sorvete. Ando de bicicleta. Jogo bola. Tenho um Xbox. Essas coisas me fazem ser comum. Por dentro. Mas sei que as crianças comuns não fazem outras crianças comuns saírem correndo e gritando do parquinho. Sei que os outros não ficam encarando as crianças comuns aonde quer que elas vão. Se eu encontrasse uma lâmpada mágica e pudesse fazer um desejo, pediria para ter um rosto comum, em que ninguém nunca prestasse atenção. Não vou descrever minha aparência. Não importa o que você esteja pensando, porque provavelmente é pior.
Devido a essa condição, ele sempre estudou em casa, mas então, seus pais sugerem que ele inicie a vida escolar em uma escola de verdade, uma escola comum. Ele, é claro, fica assustado, receoso no início, mas seus pais prometem, que ele pode abandonar a escola, se surgir algo, se ele tiver um bom motivo pra isso. E com essa "promessa", ele dá esse passo... E aí "começa" a jornada do Auggie (socialmente falando...). Ele terá que enfrentar pessoas novas, adultos, crianças da mesma idade, muitas delas... E com isso, olhares, julgamentos... Nada fácil não é?!
Acho que é como o Toque do Queijo, do livro Diário de um banana. As crianças tinham medo de encostar em uma fatia de queijo mofado na quadra de basquete. Na minha escola, eu sou o queijo mofado.

O que eu amei...

Eu amei, que Palácio conseguiu transmitir sua mensagem, mas sem ares de "lição de moral", ao contrário, é de uma maneira leve, divertida, engraçada, tocante...

O livro fala de preconceito, não só do preconceito com um rosto "deformado", mas o preconceito em geral, sem ser clichê, ou piegas (fiquem tranquilos não é nada de auto ajuda). Te faz pensar sobre o assunto, e você o faz sem saber que está fazendo. Sem eu perceber, ele me fez refletir em tantos aspectos da minha vida, e também em situações já vividas, principalmente quando eu li os pontos de vista dos outros personagens (a família e os amigos dele), foi esclarecedor e enriquecedor em medidas iguais...

O Auggie, na escola, vive o início de uma jornada, que pra qualquer criança "comum", já é complicado, imagina uma criança na "condição" dele... O mais incrível em tudo isso, é que mesmo na sua condição, ele nos mostra o valor de coisas, de sentimentos, que muitas pessoas esquecem ou já esqueceram há tempos, gentileza é a maior delas...
Preceito de setembro do Sr. Browne:"Quando tiver que escolher entre estar certo e ser gentil, escolha ser gentil."
Essa frase é do Sr. Browne, o professor de inglês do Auggie. No início do ano letivo, ele propôs aos alunos, todo mês, escolher um preceito, pode ser uma frase famosa, ou uma frase autoral... Achei um plus a mais na história do Auggie! Amei o Sr. Browne! E as frases dos alunos? Perfeitas!

O que mais me surpreendeu e ao mesmo tempo me cativou no August, além da sua força, sua inocência, foi a sua autoconsciência sobre si mesmo. Sim! Ele sabe exatamente COMO é. Mas isso, não muda QUEM ele é!
...deveríamos ser lembrados pelas coisas que fazemos. Elas importam mais que tudo. Mais do que aquilo que dizemos ou do que nossa aparência. As coisas que fazemos sobrevivem a nós...
Extraordinário, me fez rir, sofrer, chorar, me comover, me revoltar... Junto com a família e os amigos do Auggie, e é claro, com ele próprio! August é tão "normal", que se não fosse pela maneira como as pessoas o tratam, nunca saberia que ele tem alguma coisa (fisicamente falando). Percebemos isso com mais clareza quando a narração está nas mãos de outra pessoa... Ainda assim, é impossível não se apaixonar pelo Auggie...
"Grande é aquele cuja força conquista mais corações pela atração do próprio coração"
Esse é o Auggie! Um imã de energias positivas... A amizade verdadeira, evidente em poucas palavras... Um menino que só queria ser "normal"... Entretanto ele ainda não sabia, que pessoas extraordinárias, nunca seriam pessoas "normais"...
"você é mesmo extraordinário, Auggie. Você é extraordinário."

Melhor quote...
"Toda pessoa deveria ser aplaudida de pé pelo menos uma vez na vida, porque todos nós vencemos o mundo. (Auggie)"


Beijo, beijo,

Resenha: Dançando Sobre Cacos de Vidro de Ka Hancock

Título: Dançando Sobre Cacos de Vidro
Autora: Ka Hancock
Editora: Arqueiro
Gênero: Drama
Ano: 2013
Páginas: 336
Sinopse: Lucy Houston e Mickey Chandler não deveriam se apaixonar. Os dois sofrem de doenças genéticas: Lucy tem um histórico familiar de câncer de mama muito agressivo e Mickey, um grave transtorno bipolar. No entanto, quando seus caminhos se cruzam, é impossível negar a atração entre eles. Contrariando toda a lógica que indicava que sua história não teria futuro, eles se casam e firmam – por escrito – um compromisso para fazer o relacionamento dar certo. Mickey promete tomar os remédios. Lucy promete não culpá-lo pelas coisas que ele não pode controlar. Mickey será sempre honesto. Lucy será paciente. Como em qualquer relação, eles têm dias bons e dias ruins – alguns terríveis. Depois que Lucy quase perde uma batalha contra o câncer, eles criam mais uma regra: nunca terão filhos, para não passar adiante sua herança genética. Porém, em seu 11° aniversário de casamento, durante uma consulta de rotina, Lucy é surpreendida com uma notícia extraordinária, quase um milagre, que vai mudar tudo o que ela e Mickey haviam planejado. De uma hora para outra todas as regras são jogadas pela janela e eles terão que redescobrir o verdadeiro significado do amor. Dançando sobre cacos de vidro é a história de um amor inspirador que supera todos os obstáculos para se tornar possível.

Existem coisas das quais não temos controle, fatos que precisamos aceitar, resignados, mesmo que seja terrivelmente difícil. Simplesmente não há escolha.

Uma família desestruturada, um relacionamento que só você quer salvar, a morte, um acidente, a genética, uma doença… É impossível entender o porquê de algumas pessoas sofrerem mais do que outras, de umas terem doenças e morrerem bem antes da hora que deveria, de algumas terem a vida melhor do que outras, de aparentemente o mundo ser tão injusto. Será que existe realmente uma força que controla tudo e decide como puxar cada fio da humanidade? Alguns atribuem isso prontamente a Deus, ao acaso, quem sabe. Mas o mais comum é nomear como destino. Só o que podemos saber com certeza é que apenas o amor é capaz de vencê-lo e as dificuldades por ele impostas. Não se curva a sua vontade, dá força, segurança e molda a vida de quem o sente de forma a ignorar totalmente as providências da mão invisível do universo.
Lucy e Mickey, ambos profundamente marcados e limitados, não deveriam ter se envolvido. Ela e seu histórico familiar de câncer, ele e seu transtorno bipolar, jamais deveriam dar certo juntos. Mas contrariando a tudo e a todos, eles se apaixonaram, se casaram, e aprenderam a encontrar um no outro a força necessária para seguir superando os percalços do caminho. Quando Lucy descobre que está grávida, contrariando um acordo firmado há muito tempo e a vontade dos dois de não passar a diante sua herança genética, o casal irá repensar e levar sua relação a outro nível. Entendendo assim cada vez mais o que significa amar de verdade.

Esse livro tem uma carga emocional gigantesca, então não deve ser lido em qualquer momento, e nem de forma forçada. Forte, impactante, não é uma leitura do tipo leve ou que flui facilmente.
"Ficamos mutilados. Mudados. Mas sobrevivemos."
A narração é em sua maioria feita pela Lucy, mas a cada início de capítulo há um trecho de Mickey, assim como os momentos finais também são narrados por ele. A escrita da parte de Lucy é doce, envolvente, natural, mas triste. Não propositalmente, nem fazendo drama, mas simplesmente pesada em alguns trechos. Estar dentro dos pensamentos de Mickey é muitas vezes confuso, assustador. A escrita é densa, forte, realista. A autora soube perfeitamente trazer a doença dele entremeada nos trechos que narra.

Outro ponto bem interessante foi como a Ka, sendo médica, traz seus conhecimentos sobre o transtorno bipolar de forma tão simples e agradável de se ler. Ela pretende mostrar em detalhes as crises, assim como os dias normais de Mickey. Demonstrando as minúcias da doença, como ela atua, o que ela faz. Alguns podem achar a parte inicial do livro um pouco lenta, mas penso que é legal essa aproximação com a rotina das personagens que a autora quis trazer. 
"Cacos de vidro. Nesse momento, estávamos descalços e dançando sobre um mar de cacos de vidro. Por mais verdadeiro que isso fosse, porém, Mickey sabia que eu dançaria com ele para sempre se pudesse, mesmo que meus pés sangrassem." – Lucy
Lucy é incrível, determinada, firme, soube aceitar e amar um bipolar, fazendo tudo por ele e criando uma rotina que poderia parecer anormal para a maioria das pessoas. Abriu espaço para o problema de Mickey mesmo já tendo sua vida quase toda ocupada pelo seu próprio fardo. Com certeza ela não se sacrificou já que o amava, mas suportou muitos momentos terríveis sem desanimar, apenas pensando nos dias bons. Mickey é um guerreiro, que luta consigo mesmo e contra a doença todos os dias. Que ama Lucky acima de tudo e apesar de tudo. A vontade dele de vencer e passar pelos momentos ruins é tocante e inspiradora. É triste perceber como algo como o transtorno bipolar diminui as pessoas, torna-as descrentes de si mesmas, amedrontadas, fracas. Mas Mickey tinha sua muralha, Lucky. O casal soube acreditar em si mesmos e um no outro, e isso foi essencial para que as dúvidas de todos a seu redor não os atingisse.
"Cacos de vidro foram o símbolo do nosso casamento. Para mim, porém, representam mais ainda o nosso amor. Lucy costumava dizer que me amava tanto que, se pudesse, dançaria comigo para sempre sobre cacos de vidro. Conto com isso." – Mickey
Mickey e Lucky nos mostram que se quisermos realmente algo, é imprescindível nos empenharmos ao máximo, mas além de qualquer coisa, para alcançar o objetivo almejado, precisaremos dançar sobre cacos de vidro muitas vezes. Não importa que nossos pés sangrem, nada virá a nosso encontro de graça. E a partir do momento que a fé deixar de existir dentro de nós, a chance de conseguir qualquer resultado morre junto. 

Com dançando sobre cacos de vidro você chora, chora muito, mas também ri. E sobretudo aprende a ser mais humano. A lição da história não é passada de forma forçada, ela nos chega aos poucos mas intensamente, formando um quadro impressionante, no qual é impossível não pensar e refletir por vários dias. Esse é um daqueles livros tristes ao extremo, mas sem apelações desnecessárias. As personagens fazem sentir, as situações fazem sentir por si só, a autora não precisa fazer nada mais a esse respeito. A leitura é uma experiência inesquecível e que vale muito a pena.

O título da obra é extremamente significativo e expressivo. O final foi perfeito, triste, marcante, eterno. Esse livro é daqueles para se levar para sempre, guardado em um lugar bem protegido. Me surpreendi positivamente com essa grande obra. Marcante, fascinante, chocante, que ensina a importância da determinação, da coragem, da fé e da obstinação. E o mais importante, mostra a face do amor incondicional.