Título: A Arte De Ouvir O Coração
Autor: Jan-Philipp Sendker
Editora: Companhia das Letras
Selo: Paralela
Selo: Paralela
Gênero: Romance
Ano: 2013
Páginas: 256
Sinopse: O alemão Jan-Philipp Sendker conseguiu um grande feito: com uma história de amor forte e emocionante, mas totalmente diferente das tradicionais, conquistou milhões de leitores por todo o mundo. Só na Alemanha, já são quinhentos mil exemplares vendidos. Este livro conta a história de um bem-sucedido advogado de Nova York que desaparece de repente sem deixar vestígios, o que motiva Julia, sua filha, a ir atrás da única pista que tem - uma carta de amor de seu pai para uma mulher da Birmânia. Mas tudo isso é só uma introdução para a grande história que o leitor, acompanhando Julia, vai conhecer a partir daí. Um velho de Kalaw começa, então, a falar sobre a infância de seu pai, um período difícil para o pequeno Tin Win devido à crença de sua mãe que dizia que o menino havia nascido em um péssimo dia. Quando chega aos 10 anos, e parece já ter passado por muitos momentos ruins, ele fica cego. Mas diferente da forma que geralmente encaramos as coisas, isso não parece o fim do mundo para Tin Win. Não há tristeza ou desespero, mas sim um novo desafio que o leva a desenvolver a arte de identificar uma pessoa pelo som do coração batendo. E é assim que ele conhece o amor de sua vida, Mi Mi. Uma garota que aos poucos vamos descobrindo que também teria motivos de sobra para desistir da vida, mas que simplesmente vive como se ela fosse um grande milagre. A história segue de forma tão impressionante que as deficiências de Tin Win e de Mi Mi se tornam um simples detalhe.
Muito se fala de um sentimento que arrebata e transforma, mas poucas pessoas o conhecem realmente. Poucos amam incondicionalmente, sem esperar nada em troca, se contentando com pouco. Sem ciúmes ou cobranças. Poucos sentem sua face mais pura e intensa. É esse tipo sentimento que transborda das páginas de "A Arte De Ouvir O Coração." Transborda e nos atinge em cheio, jorrando reflexões e divagações com força. Abalando nossas estruturas. E ficamos ali, nos perguntando se já vivemos ou se um dia teremos a sorte de viver a verdadeira essência do que todos conhecemos como amor.
"Claro que não me refiro aos acessos de paixão que nos levam a fazer e dizer coisas das quais nos arrependeremos depois, que nos iludem a pensam que não podemos viver sem determinada pessoa, que nos deixam tremendo de medo só de pensar em perdê-la - um sentimento que nos empobrece ao invés de nos enriquecer, porque desejamos ter o que não podemos, manter o que não podemos."
Ele e a filha tinham uma relação ótima, várias histórias e lembranças doces em comum. Até que ele, um proeminente advogado de Nova York, desaparece sem deixar vestígios. Ela, Julia, fica arrasada e procura pistas. Encontra uma carta do pai endereçada a alguém da Birmânia e ao entrar no avião que a levará a um destino desconhecido, não hesita sequer uma vez. Chegando lá, descobre que seu pai fora uma pessoa que ela jamais conhecera. Conhece uma história de superação, luta e beleza. Conhece dois jovens: Um garoto cego e uma garota deficiente física. E aprende com os dois. Uma história que a transformará para sempre, pelo simples fato de ser tão bela a ponto de parecer irreal, e contar com seu pai como um dos protagonistas, alguém mais incrível que ela poderia imaginar.
"(...) A essência de algo é invisível aos olhos, dizia U May. Aprenda a perceber a essência de algo. Os olhos podem mais prejudicar do que ajudar, nesse aspecto. Eles nos distraem. Adoramos nos deslumbrar."
O título desse livro logo chamou minha atenção, e fiquei ainda mais agradavelmente surpresa ao descobrir, ao longo da história, a relação dele com os acontecimentos, além dos vários sentidos que as palavras podem assumir. Isso sem contar a premissa e o fato de ter personagens que possuem limitações, que inclusive foram muito bem tratadas. A trama principal se passa na Birmânia, um lugar lindo e culturalmente rico. O autor faz descrições de cenários, sabores e principalmente sons de uma forma que só pode ser descrita como sensorial. Proporcionando, assim, uma completa imersão no mundo da história.
"Será que havia, paralelo ao mundo de formas e cores, um outro inteiro de vozes e sons, de barulhos e tons? Um mundo escondido dos sentidos, ao nosso redor, mas, normalmente, inacessíveis a nós? Um mundo talvez ainda mais emocionante e misterioso do que o mundo visível?"
A narração é em terceira pessoa, alternada brilhantemente entre passado e presente, além de ser também compartilhada por três personagens. Impossível não esquecer de todas as outras coisas ao ler. É difícil falar sobre esse livro. É reflexivo, intenso, encantador. As personagens são construídas com maestria e são muitas as lições a serem aprendidas.
Me faltam as palavras. Talvez emocionante. Arrebatador. Incrível. Ainda não é o suficiente. Talvez eu devesse contar mais do que acontece, mas penso que a experiência completa é melhor. O leitor passa por um espiral de emoções, da alegria a tristeza, da incredulidade a raiva, mas o que fica é a admiração pelo amor. Amor incondicional na sua forma mais verdadeira. Alguns podem considerar o final um tanto quanto previsível, mas acredito que foi perfeito. Essa é uma história inacreditável de um jeito bom, que arrebata e nos torna mais humanos e um pouco menos ignorantes na arte de amar. Esse é daqueles livros que fazem tão bem, trazem tanta leveza, que a história fica impressa pelos bons momentos, pelas reflexões e frases inspiradoras. Ao final das páginas, você não será o mesmo, e talvez aprenda, também, a ver o mundo com seus outros sentidos. E o principal: O que é, realmente, ouvir o coração.
"E deve haver na vida algo como um ponto de virada catastrófico, quando o mundo, da maneira como o conhecemos, deixa de existir. Um momento que nos transforma em uma pessoa diferente de um instante para outro. O momento em que um namorado confessa ter outro alguém e que está partindo. Ou o dia em que enterramos um pai, uma mãe ou o melhor amigo. Ou o momento em que o médico nos dá a notícia de um tumor maligno no cérebro. Ou será que tais momentos são apenas as conclusões dramáticas de processos mais compridos, conclusões que poderíamos ter tirado se tivéssemos prestado atenção aos maus presságios em vez de ignorá-los?
E se esses pontos de virada são reais, temos consciência deles conforme acontecem, ou reconhecemos a descontinuidade muito tarde, quando relembramos os fatos?"
*Descrição da capa: Com o fundo num tom pastel, possui seu título centralizado em vermelho, nome do autor em preto e em volta desse texto, num formato circular, vários insetos enfileirados, de diversas espécies. No círculo mais interno temos algo que me parecem besouros e outros tipos de insetos que não reconheço. No segundo círculo borboletas de várias espécies. O terceiro círculo parece uma repetição do primeiro, mas com as figuras maiores e no último círculo (que é não 100% exibido devido ao corte das imagens), ovos de insetos.
* A descrição da capa é algo que utilizamos no blog para que os visitantes que possuam alguma deficiência visual possam ter uma ideia de como seria a capa, pois os mesmos costumam utilizar uma ferramenta de áudio para ler a resenha.
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